14 de junho de 2014

Como a Química analisa os resíduos de pólvora nas mãos do atirador determinando a autoria do tiro?

                                                                                                     Por Uilca O. Melo
Um tiro sempre deixa marcas nas mãos. Restos de metais (elementos antimônio (Sb), bário (Ba) e chumbo (Pb), provenientes de explosivos como sais de chumbo, bário e antimônio, além da composição da liga de projéteis e cartuchos) que podem ajudar a esclarecer um crime. Por isso, na investigação policial, os peritos fazem um teste nas mãos dos suspeitos (na palma (a), no dorso (b), na região palmar (c) e dorsal (d) dos dedos polegar e indicador, como ilustra a Figura 1).

                                                 Figura 1- Regiões da mão que passam por análise

Um teste comumente utilizado para a detecção de vestígios de disparo de arma de fogo nas mãos de um possível suspeito consiste na pesquisa de íons ou fragmentos metálicos de chumbo, em decorrência da maior quantidade desta espécie metálica em relação a outras. A análise química de chumbo consiste na coleta prévia de amostra das mãos do suspeito, mediante aplicação de tiras de fita adesiva do tipo esparadrapo nas mesmas e subsequente imobilização dessas tiras em superfície de papel de filtro. As referidas tiras, ao serem borrifadas com solução acidificada de rodizonato de sódio (reagente colorimétrico), se apresentarem um espalhamento de pontos de coloração avermelhada, indicam resultado positivo para o disparo. Tal exame é conhecido como residuográfico, conforme figura 2 a seguir:

                                                      Figura 2- Exame Residuográfico


Apesar deste teste ser prático e simples, tem várias limitações como: só revela resíduos de chumbo, por isso não é muito preciso; não diz se o chumbo é oriundo de um disparo de arma de fogo ou de outras atividades vinculadas à profissão do suspeito como mecânico, pintor, cabeleiro, laboratorista, soldador, etc; não revela pequenas quantidades de resíduos (na ordem de mg) nas mãos de um atirador. Portanto, um resultado negativo em um teste colorimétrico não significa que o disparo não tenha sido efetuado. Em vista disso, é muito difícil provar, através do método atual, se uma pessoa disparou uma arma ou não por causa do grande número de resultados "falsos positivos" e "falsos negativos" que geram margem para dúvidas.

Deste modo, o uso de métodos instrumentais que apresentem maior sensibilidade tem sido cada vez mais considerado. No laboratório de espectrometria atômica da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), uma máquina, chamada de ICP OES (sigla para "espectrômetro de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado"- Figura 3) é usada para determinar além do chumbo, outros dois metais que são liberados nos tiros: o bário e o antimônio. O resultado sai em três minutos e essa nova maneira de analisar os resíduos de tiros evita os resultados falsos, que acontecem com frequência com o método atual.    
          
                     Figura 3- Espectrômetro de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado

Além de identificar se uma pessoa efetuou ou não o disparo, o método desenvolvido na UFES (técnica em fase de teste na polícia civil capixaba) pode dizer qual tipo de arma foi usada pelo criminoso (pistola ou revólver), quantos tiros foram disparados. O exame também pode identificar quantidades bem menores de resíduos (uma partícula em meio a um bilhão) e detectar se um indivíduo, após efetuar os disparos, tomou um banho ou lavou as mãos, tentando eliminar os vestígios.
                                                                                                                                                      Por Uilca O. Melo
                                                                                    
Referências
CHEMELLO, E. Ciência Forense: Balística. Química Virtual, fevereiro, 2007. Disponível em: www.quimica.net/emiliano/artigos/2007fev_forense3.pdf.    Acessado em: 02 de junho de 2014.

REIS, E. L. T. dos; SARKIS, J. E. de S.; RODRIGUES, C.; NETO, O.N.; VIEBIG, S. Identificação de resíduos de disparos de armas de fogo por meio da técnica de espectrometria de massas de alta resolução com fonte de plasma indutivo. Química Nova, Vol. 27, nº. 3, p. 409-413, 2004.

OLIVEIRA, M. F. de. Química Forense: A utilização da Química na pesquisa de vestígio de crime.  Química Nova na Escola nº 24, p. 17-19, Novembro, 2006

____________Novo teste identifica, com precisão, autor de disparo de arma de fogo. 14/05/2014. Disponível em: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2014/05/noticias/cidades/1486872-novo-teste-identifica-com-precisao-autor-de-disparo-de-arma-de-fogo.html. Acessado em: 31 de Maio de 2014.



Comentários
6 Comentários

6 comentários :

  1. Excelente texto! Altamente esclarecedor! Parabéns, Uilca O. Melo

    ResponderExcluir
  2. Preciso de um perito criminal nessa área ,para fazer um relatório sobre esse assunto.Meu número 83988383947.Elvis Galdino

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Olá boa noite, um revólver calibre 38 ao disparar um projétil e logo após cair num córrego pode dar ausência de pólvora tanto no cano quanto nas cápsulas?
    Visto que as munições também poderiam ser velhas!

    ResponderExcluir

Este blog não se responsabiliza pelos comentários de terceiros.