Como a Química analisa os resíduos de pólvora
nas mãos do atirador determinando a autoria do tiro?
Por Uilca O. Melo
Um tiro
sempre deixa marcas nas mãos. Restos de metais (elementos antimônio (Sb), bário (Ba) e chumbo (Pb),
provenientes de explosivos como sais de chumbo, bário e antimônio, além da
composição da liga de projéteis e cartuchos) que podem ajudar a esclarecer um
crime. Por isso, na investigação policial, os peritos fazem um teste nas mãos
dos suspeitos (na palma (a), no dorso (b), na região palmar (c) e dorsal (d)
dos dedos polegar e indicador, como ilustra a Figura 1).
Um teste comumente utilizado para a detecção de
vestígios de disparo de arma de fogo nas mãos de um possível suspeito consiste
na pesquisa de íons ou fragmentos metálicos de chumbo, em decorrência da maior
quantidade desta espécie metálica em relação a outras. A análise química de
chumbo consiste na coleta prévia de amostra das mãos do suspeito, mediante
aplicação de tiras de fita adesiva do tipo esparadrapo nas mesmas e subsequente
imobilização dessas tiras em superfície de papel de filtro. As referidas tiras,
ao serem borrifadas com solução acidificada de rodizonato de sódio (reagente
colorimétrico), se apresentarem um espalhamento de pontos de coloração
avermelhada, indicam resultado positivo para o disparo. Tal exame é conhecido
como residuográfico, conforme figura 2 a seguir:
Apesar deste
teste ser prático e simples, tem várias limitações como: só revela resíduos
de chumbo, por isso não é muito preciso; não diz se o chumbo é oriundo de um
disparo de arma de fogo ou de outras atividades vinculadas à profissão do suspeito como mecânico, pintor,
cabeleiro, laboratorista, soldador, etc; não revela pequenas
quantidades de resíduos (na
ordem de mg) nas mãos de um atirador. Portanto, um resultado
negativo em um teste
colorimétrico não significa que o disparo não tenha sido efetuado. Em vista
disso, é muito difícil provar, através do método atual, se uma pessoa disparou
uma arma ou não por causa do grande número de resultados "falsos
positivos" e "falsos negativos" que geram margem para dúvidas.
Deste modo, o uso de
métodos instrumentais que apresentem maior sensibilidade tem sido cada vez mais
considerado. No laboratório de espectrometria
atômica da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), uma máquina, chamada
de ICP OES (sigla para "espectrômetro de emissão óptica com plasma
indutivamente acoplado"- Figura 3) é usada para determinar além do chumbo,
outros dois metais que são liberados nos tiros: o bário e o antimônio. O resultado sai em três minutos e essa
nova maneira de analisar os resíduos de tiros evita os resultados falsos, que
acontecem com frequência com o método atual.
Além de identificar se
uma pessoa efetuou ou não o disparo, o método desenvolvido na UFES (técnica em
fase de teste na polícia civil capixaba) pode dizer qual tipo de arma foi usada
pelo criminoso (pistola ou revólver), quantos tiros foram disparados. O exame
também pode identificar quantidades bem menores de resíduos (uma partícula em
meio a um bilhão) e detectar se um indivíduo, após efetuar os disparos, tomou um banho ou lavou
as mãos, tentando eliminar os vestígios.
Por Uilca
O. Melo
Referências
CHEMELLO,
E. Ciência Forense: Balística. Química Virtual, fevereiro, 2007. Disponível em:
www.quimica.net/emiliano/artigos/2007fev_forense3.pdf. Acessado em: 02 de junho de 2014.
REIS, E. L. T. dos; SARKIS, J. E. de
S.; RODRIGUES, C.; NETO, O.N.; VIEBIG, S. Identificação de resíduos de disparos
de armas de fogo por meio da técnica de espectrometria de massas de alta
resolução com fonte de plasma indutivo. Química Nova, Vol. 27, nº. 3, p.
409-413, 2004.
OLIVEIRA, M. F. de.
Química Forense: A utilização da Química na pesquisa de vestígio de crime. Química Nova na Escola nº 24, p. 17-19, Novembro,
2006
____________Novo teste identifica, com precisão, autor de disparo de
arma de fogo. 14/05/2014.
Disponível em: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2014/05/noticias/cidades/1486872-novo-teste-identifica-com-precisao-autor-de-disparo-de-arma-de-fogo.html. Acessado em: 31 de Maio de
2014.
Excelente texto! Altamente esclarecedor! Parabéns, Uilca O. Melo
ResponderExcluirExcelente texto.
ResponderExcluirPreciso de um perito criminal nessa área ,para fazer um relatório sobre esse assunto.Meu número 83988383947.Elvis Galdino
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá boa noite, um revólver calibre 38 ao disparar um projétil e logo após cair num córrego pode dar ausência de pólvora tanto no cano quanto nas cápsulas?
ResponderExcluirVisto que as munições também poderiam ser velhas!