COMO ESCOLHER UM EXTINTOR DE INCÊNDIO?

Uilca O. Melo (06/03/13)

A tragédia ocorrida em janeiro em Santa Maria- RS, que vitimou 240 pessoas, fez muitos brasileiros se darem conta da enorme importância da existência de extintores de incêndios e de um serviço de manutenção a estes, que deve sempre ser realizado no prazo e de maneira adequada e fez descobrirem o quão insuficientes são as informações que possuem a respeito do assunto. Às vezes, por pura desatenção, pela falta de políticas públicas que versem profundamente sobre o tema, pois as leis que existem nem sempre são claras ou específicas em alguns pontos ou até mesmo e, exatamente por causa disto, por puro desconhecimento químico ocorrem tragédias como esta. Desconhecimento este, que o texto ajuda a esclarecer através de uma breve exposição do que é o incêndio, como este ocorre, os tipos, os métodos de extinção e qual extintor mais adequado a cada tipo de ocorrência.

A química do fogo

O fogo ao fugir do controle do homem recebe o nome de incêndio que é na realidade um processo de combustão, ou seja, uma reação exotérmica de uma substância combustível com o oxigênio do ar atmosférico (comburente) usualmente acompanhada por chamas e ou emissão de fumaça.

As reações de combustão liberam energia na forma de calor e luz e produzem, geralmente, o gás dióxido de carbono (CO₂) e água. Além desses gases, dependendo da composição do combustível e das condições da reação, outros podem ser produzidos, tais como dióxido de enxofre (SO₂), monóxido de carbono (CO), gás cianídrico (HCN), gás sulfídrico (H₂S), óxidos de nitrogênio- NO_x (sendo os mais comuns: N₂O, NO, NO₂, N₂O₄).

O risco de incêndio existe sempre que tivermos juntos quatro fatores:

1. presença de um combustível (que é todo material oxidável- sólido, líquido ou gasoso- capaz de reagir com o gás oxigênio);

2. presença do comburente (é o elemento químico que se combina com o combustível, possibilitando o surgimento do fogo). Como exemplo de comburente podemos citar o gás cloro e o gás flúor, porém o comburente mais comum é o oxigênio;

3. calor (é o elemento responsável pelo início da combustão, que representa a energia mínima necessária para o início do fogo. Esta energia pode ser produzida por choque, fricção, pressão, faísca, por um ponto quente ou por chama viva);  

4. reação em cadeia (o calor irradiado das chamas atinge o combustível e este é decomposto em partículas menores, que se combina com o oxigênio e queimam, irradiando outra vez calor para o combustível, formando um ciclo constante).

            Essas condições costumavam ser representadas por um triângulo- o triângulo de fogo, mas atualmente são representadas por um quadrado (ou tetraedro) do fogo: 

  

          

O triângulo de fogo ou o tetraedro do fogo representam os três componentes necessários para que o fogo ocorra: combustível, oxigênio e energia. O combustível propaga o fogo na presença de oxigênio (comburente) e de um acontecimento que forneça o calor inicial (ignição). Esse agente fornece a energia necessária para que a reação inicie e se mantenha, constituindo uma reação em cadeia. Nesse processo, enquanto existir combustível e comburente a reação continua espontaneamente.  Após o início da queima, a reação continua até que um dos fatores seja eliminado. Sabendo disso, os bombeiros utilizam essa técnica para controlar o fogo: eliminam um desses componentes.

          

 

Classes de incêndios

De acordo com o material consumido (combustível), os incêndios são classificados em diferentes classes.

Classe de incêndio	Tipos de incêndios	Rótulo
A	Incêndio em materiais sólidos (madeira, papel, tecido, borracha, algodão, espuma). Esses materiais queimam em superfícies e em profundidade, deixando resíduos.
B	Incêndio em líquidos e gases inflamáveis (óleo, gasolina, álcool, graxas, tinta, gás de cozinha, querosene, diesel etc). Esses materiais queimam somente em superfícies e não deixam resíduos.
C	Incêndio em equipamentos ou rede elétrica energizados. Desligada a corrente elétrica, o incêndio passa a ser de classe A. Esse tipo de incêndio exige que o agente extintor não conduza a corrente elétrica.
D	Incêndio em metais pirofóricos (Na, K, Mg, Al em pó, W, Mo, Zn, etc)  produzindo uma chama de cor azul-esbranquiçada. Nesta classe deve-se evitar o uso de água para a sua extinção. É pouco comum no Brasil.

Métodos de extinção do fogo

A prevenção e a extinção de um incêndio envolve a eliminação de um dos quatros elementos do quadrado ou tetraedro do fogo, por meio do(a):

• Resfriamento (retira-se o calor): consiste em retirar ou diminuir o calor do material incendiado até um determinado ponto em que não libere vapores que reajam com o oxigênio, impedindo o avanço do fogo. Agentes extintores tais como a água, o dióxido de carbono (CO₂) e a espuma atuam principalmente desta forma.

• Abafamento (retira-se o oxigênio): consiste em diminuir ou impedir o contato do gás oxigênio do ar com o combustível utilizando-se uma cobertura. O abafamento pode ser praticado, seguindo os procedimentos a seguir: cobertura ou envolvimento total do corpo em chamas; fechamento hermético do local onde ocorre à queima; emprego de substâncias não combustíveis, como: areia, terra e outros. Tal processo também pode ocorrer pelo emprego de agentes extintores tipo espuma, pó químico seco, dióxido de carbono (CO₂) ou água sob a forma de neblina.

• Isolamento (retira-se o combustível): ocorre pela retirada do combustível ou do seu afastamento da fonte de calor. Há técnicas que se encaixam nesse método de atuação, pois há outras formas de atuar no combustível que não apenas a retirada do que ainda está intacto. Ex.: fechamento de válvula ou interrupção de vazamento de combustível líquido ou gasoso, retirada de materiais combustíveis do ambiente em chamas, etc.

• Extinção química: é a ação sobre a reação química da combustão, como ocorre ao aplicar o extintor de pó químico, que apaga o fogo ao inibir reação química em cadeia junto ao material em chamas.

Agentes extintores

É de extrema importância conhecer e identificar bem o incêndio que se vai combater, antes de escolher o agente extintor (equipamento ou substância que empregada contra o fogo, atua cancelando a ação de um dos elementos do quadrado do fogo). O texto tratará apenas dos agentes extintores mais comuns, que são utilizados em aparelhos extintores. Um erro na escolha de um extintor pode tornar inútil o esforço de combater as chamas, podendo até piorar a situação: aumentar ou espalhar ainda mais as chamas, ou criar novas causas de fogo (curtos-circuitos). 

Extintores

Tipo de extintores	Princípio de funcionamento	Classe de incêndio
Extintor com água pressurizada: água na forma líquida (jato ou neblina)	A água, impulsionada por um gás (nitrogênio ou dióxido de carbono), resfria e abafa o fogo.	Classe A
Extintor com gás carbônico (CO2)	O gás, além de abafar e resfriar, não conduz eletricidade.	Classes B e C
Extintor com pó químico seco (pó ABC, pó BC e pó D).	O pó (finíssimas partículas sólidas) atua por abafamento e quebra da reação em cadeia.	• Classes A, B e C (pó ABC- composto a base de fosfato de monoamônio (NH4H2PO4) e fosfato de diamônio ((NH4)2HPO4). • Classe B e C (pó BC- composto a base de bicarbonato de sódio-NaHCO3 ou de potássio- KHCO3). • Classe D (pó D- de composição variada, pois cada metal pirofórico terá um agente especifico, tendo por base a grafita misturada com cloretos e carbonetos).
Extintor de espuma: espuma mecânica	Contém água, espumante e ar pressurizado. A espuma resfria e abafa.	Classe A e B

Para ajudar os usuários a distinguir qual o extintor correto em cada caso de emergência, a maioria dos extintores, em seu rótulo, possuem indicação e/ou proibição de uso para algumas classes de incêndio e, além disso, possuem instruções de uso (imagem 1). Outra informação a ser observada refere-se a data de manutenção que fica em um selo do Inmetro (imagem 2). É preciso ficar atento também ao indicador de pressão, que tem de estar no verde (imagem 3). Os cilindros são lacrados. Tem um pino de segurança (imagem 4) e um anel (imagem 5), que muda de cor todos os anos. O de 2013 é verde.

Imagem 1	Imagem 2	Imagem 3	Imagem 4	Imagem 5

Outros dados extremamente importantes também devem ser observados:

• Em razão da existência de sais minerais em sua composição química, a água conduz eletricidade e seu usuário, em presença de materiais energizados, pode sofrer choque elétrico. Quando a água é utilizada no combate ao fogo em líquidos inflamáveis, há o risco de ocorrer transbordamento do líquido que está queimando, aumentando, assim, a área do incêndio. Portanto, a água não pode ser utilizada para apagar incêndios das classes B e C.

• O grande inconveniente do extintor de gás carbônico é o risco de queimaduras por parte do operador, pois ao ser liberado para a atmosfera, a expansão do gás pode gerar temperaturas da ordem de – 40 ºC na proximidade do difusor do extintor. O gás carbônico é asfixiante e por isso deve-se evitar o seu uso em ambientes pequenos e/ou fechados.

• Em contato com as chamas o pó químico seco BC (composto a base de bicarbonato de sódio-NaHCO₃ ou de potássio- KHCO₃) se decompõe, formando dióxido de carbono (CO₂), extinguindo-as com grande eficiência.

• A espuma mecânica é produzida pelo batimento da água, LGE (líquido gerador de espuma) e ar. A rigor, a espuma é mais uma das formas de aplicação da água, pois se constitui de aglomerado de bolhas de ar envoltas por película de água. Usada em locais onde há risco de vazamento de grandes quantidades de combustíveis como, por exemplo, em aeroportos, a espuma não deve ser utilizada em incêndios da classe C.

                                                                                         

                                                                                    Por Uilca O. Melo

Referências

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_______. JORNAL NACIONAL. Edição do dia 05/02/2013. 21h44 - Tragédia em boate chama atenção da importância da manutenção de extintores. Disponível em: <  http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/02/tragedia-em-boate-chama-atencao-da-importancia-da-manutencao-de-extintores.html>. Acesso em: 09 Fev. 2013

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