A química dos perfumes
Os perfumes tem sido parte da vida civilizada há vários séculos, tanto para os homens como para as mulheres. Todos nós temos preferências por determinados aromas, os quais podem nos mudar o humor ou suscitar emoções. Provavelmente o mais primitivo dos nossos sentidos, o olfato tem a capacidade de nos recordar experiências passadas. As mensagens olfativas são enviadas para áreas do cérebro associadas à emoção, à criatividade e à memória.
Os
primeiros perfumes surgiram provavelmente associados a atos religiosos, há mais
ou menos 800 mil anos, quando o homem descobriu o fogo. Os deuses eram
homenageados com a oferenda de fumaça proveniente da queima de madeira e de
folhas secas. Essa prática foi posteriormente incorporada pelos sacerdotes dos mais
diversos cultos, que utilizavam folhas, madeira e materiais de origem animal
como incenso, na crença de que a fumaça com cheiro adocicado levaria suas
preces para os deuses. Daí o termo ‘perfume’ originar-se das palavras latinas
per (que significa origem de) e fumare (fumaça). O passo seguinte na evolução
do emprego dos aromas foi sua apropriação pelas pessoas, para o uso particular,
algo que provavelmente aconteceu entre os egípcios. Um avanço posterior foi a
descoberta de que certas flores e outros materiais vegetais e animais, quando imersos
em gordura ou óleo, deixavam nestes uma parte de seu princípio odorífero. Com o advento
do cristianismo, o uso dos aromas foi banido, uma vez que estava associado a
rituais pagãos. Os árabes, no entanto, cuja religião não impunha as mesmas
restrições, foram os responsáveis pela perpetuação de seu uso.
A arte de
extração de perfumes foi bastante aprimorada pelos árabes há cerca de mil anos.
Eles faziam essas extrações a partir de flores maceradas, geralmente em água,
obtendo ‘água de rosas’ e ‘água de violetas’, dentre outras.
Com o advento
do cristianismo, o uso dos perfumes como aditivo ao corpo foi banido, uma vez
que estava associado a rituais pagãos. Os árabes, no entanto, cuja religião não
impunha as mesmas restrições, foram os responsáveis pela perpetuação de seu
uso. O ressurgimento da perfumaria no Ocidente deveu-se aos mercadores que viajavam
às Índias em busca de especiarias. Outra contribuição significativa foi a das
Cruzadas: retornando à Europa, os cruzados trouxeram toda a arte e a habilidade
da perfumaria oriental, além de informações relacionadas às fontes de gomas,
óleos e substâncias odoríferas exóticas como jasmim, ilangue-ilangue, almíscar
e sândalo. Já no final do século XIII, Paris tornara-se a capital mundial do
perfume. Até hoje, muitos dos melhores perfumes provêm da França. Já as águas
de colônia clássicas têm menos de 200 anos, sendo originárias da cidade de
Colônia, na Alemanha.
Mas, afinal de contas, o que é um perfume? O que ele contém?
A fragrância
de um perfume é um complexo sistema de substâncias originalmente extraídas de
algumas plantas tropicais ou de alguns animais selvagens. Recentemente,o perigo
de extinção de certas espécies vegetais e animais e a busca de novas essências,
inclusive de menor custo, conduziu a química dos perfumes aos laboratórios, onde são criados os produtos
sintéticos que têm substituído paulatinamente os aromas naturais.
Outro aspecto
curioso é que as fragrâncias que encontramos em detergentes, amaciantes e
produtos de limpeza são, com frequência, as mesmas usadas na fabricação de
perfumes. Do ponto de vista da química, o que realmente caracteriza uma fragrância?
A resposta a essa pergunta nos conduz a uma curiosa viagem pelo mundo das
moléculas voláteis.
Componentes básicos de um perfume;
Um perfume é,
por definição, um material — porção de matéria com mais de uma substância. A
análise química dos perfumes mostra que eles são uma complexa mistura de compostos
orgânicos denominada fragrância (odores básicos). Inicialmente, as fragrâncias
eram classificadas de acordo com sua origem. Por exemplo: a fragrância floral consistia no óleo obtido de
flores tais como a rosa, jasmim, lilás etc. A fragrância verde era constituída
de óleos extraídos de árvores e arbustos, como o eucalipto, o pinho, o citrus,
a alfazema, a cânfora etc. A fragrância animal consistia em óleos obtidos a
partir do veado almiscareiro (almíscar), do gato de algália (algália), do
castor (castóreo) etc. A fragrância amadeirada continha extratos de raízes, de
cascas de árvores e de troncos, como por exemplo, do cedro e do sândalo.
Os perfumes
têm em sua composição uma combinação de fragrâncias distribuídas segundo o que
os perfumistas denominam de notas de um perfume. Assim, um bom perfume possui
três notas: Nota superior (ou cabeça do
perfume): é a parte mais volátil do perfume e a que detectamos primeiro,
geralmente nos primeiros 15 minutos de evaporação. Nota do meio (ou coração do
perfume): é a parte intermediária do perfume, e leva um tempo maior para ser percebida,
de três a quatro horas. Nota de fundo (ou base do perfume): é a parte menos
volátil, geralmente leva de quatro a cinco horas para ser percebida. É também
denominada ‘fixador’ do perfume. A esta fragrância estão associadas, segundo os
perfumistas, as emoções fortes e a sugestão de experiências.
Composição química das fragrâncias
As fragrâncias
características dos perfumes foram obtidas durante muito tempo exclusivamente a
partir de óleos essenciais extraídos de flores, plantas, raízes e de alguns
animais selvagens. Esses óleos receberam o nome de óleos essenciais porque
continham a essência, ou seja, aquilo que confere à planta seu odor
característico. Embora os óleos essenciais sejam ainda hoje obtidos a partir
dessas fontes naturais, têm sido substituídos cada vez mais por compostos
sintéticos, como veremos mais adiante.
Os químicos já
identificaram cerca de três mil óleos essenciais, sendo que cerca de 150 são
importantes como ingredientes de perfumes. Para que possam ser usados com esse
fim, os óleos essenciais devem ser separados do resto da planta. As técnicas
usadas para isso baseiam-se em suas diferenças de solubilidade, volatilidade e
temperatura de ebulição. A extração por solventes, por exemplo, utiliza o
solvente éter de petróleo (uma mistura de hidrocarbonetos) para extrair óleos
essenciais de flores. Já o óleo de eucalipto pode ser separado das folhas
passando através delas uma corrente de vapor de água (destilação por arraste de
vapor). Uma vez obtido um óleo essencial, a análise química permite identificar
quantos e quais componentes estão presentes. Antes do advento das técnicas
modernas de análise de óleos essenciais (cromatografia a gás, espectrometria de
massa, ressonância magnética nuclear, espectroscopia de infravermelho etc.), os
químicos identificavam quase exclusivamente o componente principal de um óleo essencial.
Hoje, é possível identificar todos os componentes de um óleo, mesmo aqueles que
estão presentes em quantidades mínimas.
Ilustração de alguns óleos essenciais
Existe uma diferença muito grande
no preço dos produtos de perfumaria, dependendo se são classificados como ‘perfume’,
‘água de colônia’ ou ‘loção pós-barba’. Estas diferentes classificações refletem,
na realidade, a composição da mistura que você está comprando. Os perfumes
contêm misturas de fragrâncias dissolvidas em um solvente, geralmente o etanol.
O etanol, por sua vez, contém sempre uma pequena quantidade de água. Quanto
maior a porcentagem das essências nas fragrâncias, maior o preço do produto. Além
da essência e do solvente, os fabricantes adicionam à mistura substâncias
denominadas de fixadores que têm a função de retardar a evaporação da essência,
e consequentemente, prolongar os efeitos do perfume. É comum também adicionar outro
álcool, o propileno glicol, para aumentar a solubilidade da essência no
solvente. Finalmente, cabe salientar que para algumas pessoas os perfumes não
trazem sensações agradáveis: são aquelas que têm algum tipo de alergia aos
ingredientes usados na formulação.
Depois de tudo isso, vamos
assistir a um vídeo que ilustra bem a obtenção dessas essências!
Referências:
http://www.quimica.ufpr.br/eduquim/eneq2008/resumos/R0112-2.pdf
http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/1732/1/2011_PaulaMarcellyAlvesMachado.pdf
http://www.ensinosaudeambiente.com.br/eneciencias/anaisiiieneciencias/trabalhos/T82.pdf
http://crq4.org.br/default.php?p=texto.php&c=cosmeticosleiamais2
http://crq4.org.br/default.php?p=texto.php&c=historiadoscosmeticosquimicaviva
http://web.ccead.puc-rio.br/condigital/mvsl/museu%20virtual/curiosidades%20e%20descobertas/A%20Quimica%20e%20os%20aromas/quimica.html
http://www.portaldosaromas.com.br/site/index.php/perfumaria
http://meuperfume.blog.br/blog.php/2011/07/25/a-historia-do-perfume-e-sua-evolucao/
http://suzane1.no.comunidades.net/
http://aprenderquimica.blogspot.com.br/2011/08/folha-de-s-paulo-quimica-perfumada.html
http://www.youtube.com/watch?v=FPNzA8fCe_s
Priscilla Cerqueira