Atualmente,
temos visto o desenvolvimento e ações no campo da educação não formal e sua
importância. Um dos temas utilizado pela educação não formal é tratado neste
texto, e refere-se à utilização das artes cênicas, ou seja, do teatro, como
forma de ensino e difusão do conhecimento.
Na
história sobre o teatro, vemos a utilização do mesmo como proposta pedagógica.
Na Grécia antiga, Aritófanes já o fazia em 414 a.C. quando lançou As aves,
peça com críticas ainda hoje atuais aos jovens e ao sistema educacional. Se
tomarmos a Grécia como ponto de partida do desenvolvimento do teatro,
encontraremos que, por ocasião da colheita das uvas, eram promovidas homenagens
a Dionísio, deus do vinho, da fertilidade, da fonte da vida e do sexo. Durante
os festejos anuais, formavam-se procissões e cortejos, ao som de canções
improvisadas entoadas por jovens em giros dançantes. Surgem nessas
manifestações os primeiros registros do uso coletivo do canto, da dança e da
representação. Este é, para muitos, o berço do teatro que nasce como forma
coletiva de arte, utilizando-se de várias linguagens.
Shepherd-Barr (2003) descreve em seu artigo o
sucesso de peças que falam sobre ciência como Copenhagem e After Darwin e
mostra que a teatralização dos temas faz brilhar a substância científica
abordada. A interdependência das propriedades formais e temáticas é uma marca
desse gênero contemporâneo de peças científicas, apresentando desafios
inovadores e provocativos ao realismo dos palcos.
Triffaux
(1999) descreve em seu artigo a ambiguidade que caracteriza a relação
ciência-teatro, a primeira destas atividades sendo intelectual e racional,
enquanto a segunda é um complexo fenômeno humano e artístico. Tal ambiguidade é
causada pela influência positiva que uma exerce sobre a outra e pela própria
separação que a cultura impõe em diferentes campos do conhecimento.
Montenegro
(2005) cita algumas peças desenvolvidas pela Seara da Ciência, órgão da UFC
(Universidade Federal do Ceará).
“Algumas
peças apresentadas a seguir mostram a trajetória e as contribuições de grandes
cientistas como Einstein, Lavoisier e Darwin, por meio de monólogos, que são um
breve resumo de suas biografias. Os ilustres personagens recebem a plateia em
seus “laboratórios” e estes são envolvidos na trama.”
·
Em Einstein, procuramos enfatizar a teoria da
relatividade e os estudos que foram realizados em uma cidade no interior do
Ceará no início do século passado. Em um dos trechos ele diz: “... — (...) E
tem mais, vocês sabiam que a minha teoria, ( da relatividade) só foi comprovada
em 1919, aqui em Sobral, por ocasião de um eclipse?...”
·
Sobre Lavoisier, se explica à platéia a
importância de seu trabalho no campo da química: “... — (...) Vocês conhecem
este livro? (capa do livro está escrito Traité éleméntaire de chimie ) — Foi
como seu lançamento, em 1789, que nasceu a química moderna, e eu passei a ser
conhecido como o pai da química! Pois, até aqui, reinava a alquimia! O conteúdo
do livro trata, entre outras coisas, da unificação da nomenclatura utilizada
para determinar os elementos, e se tornou o marco fundamental da química!...”.
Ainda,
Montenegro nos fala sobre outra peça:
“O nosso ‘carro-chefe’
tem sido a Bioquímica em cena, de Marcus R. Vale, uma peça que tem como
objetivo abordar, em linguagem simples e divertida, as relações metabólicas
mantidas entre vários sistemas do organismo humano. Ela prevê um elenco de oito
atores que representam como personagens órgãos do corpo, que discutem entre si
sobre qual deles é o mais importante. Cada um enfatiza suas qualidades
metabólicas, mostrando que, sem ele, o seu dono não sobreviveria. A peça mostra
que todos os tecidos possuem características bioquímicas especiais que os
diferenciam uns dos outros, sendo exatamente essas diferenças que possibilitam
ao nosso corpo funcionar de forma integrada, elegante e perfeita. Quando cada
um cumpre seu papel metabólico o equilíbrio é mantido, isto é, atingimos a homeostase.”
Abaixo a transcrição de um dos diálogos da
peça:
“...
Fígado — Bem,... com exceção da hemácia. Mas essa gasta tão pouca energia...
que eu nem faço muita questão... Mas tu... além de não armazenar a glicose
ainda usas demais!... Imagine!... 60% da glicose do corpo és tu que queimas!
Mesmo quando ele (o músculo) está em repouso.
Cérebro —
As tarefas nobres que tenho de realizar gastam muita energia mesmo, meu caro. É
isso aí! C’est la vie.
Músculo —
Como já dizia Einstein, tudo é relativo. Aliás, eu preferiria dizer que tudo é
muuuuito relativo! Por exemplo , essa história de gasto de energia... Esses
tais 60% de glicose que o fígado mencionou aí... Fichinha, meu nego. Qualquer
exerciciozinho que o nosso corpo fizer, quer dizer, que eu fizer, consome essa
glicose aí bem ligeirinho!
Cérebro —
É, esse tipo de atividade “não intelectual” deve gastar mesmo muita energia...
a minha glicose!...
Músculo —
É... realmente adoro uma coisinha doce logo no começo do meu trabalho de
contração. Depois,... bem,... depois de algum tempo, um acidozinho-graxo me cai
muito bem. Até porque esse daí não precisa da insulina para poder entrar em
mim. Já chega e vai entrando sem pedir licença. E é muito bem-vindo porque tem
muito mais energia do que a glicose. E para um tecido importantíssimo como
eu... ”
As peças citadas acima, é um
pouco de muitos trabalhos teatrais que estão sendo produzidos em
nosso país, podemos citar alguns grupos como Espaço Ciência- PE, Casa da
Ciência- UFRJ, Estação Ciência- USP-SP, Arte e Ciência no Palco- SP, Alquimia-
UNESP- Araraquara, CDCC-USP- São Carlos e Ouroboros- UFSCar.
Foto do elenco da peça “Quimitaverna”. Química em Ação, grupo de teatro do
Instituto de Química da USP.
Este tipo
de abordagem não formal, em toda encenação teatral, busca ao mesmo tempo aliar
o entretenimento com temas científicos, conceitos da ciência, história da
ciência, entre outros. Constitui-se portanto em uma ótima ferramenta para o ensino e
difusão dos saberes da química e da ciência.
Por
Davi Villela
Abaixo uma
peça completa apresentada pelo grupo Química em Ação da USP-SP, com o título “A
química na história” postada pelos autores no site youtube.
Segunda
Parte: http://www.youtube.com/watch?v=5-WXR5b2kqg
Terceira
Parte: http://www.youtube.com/watch?v=O-cM92YLV3I
Quarta
Parte: http://www.youtube.com/watch?v=MuUAr18Jjkc
Pequenos trechos de algumas peças teatrais do grupo de teatro “Arte Ciência no Palco”(ACP).
Apresentação do Grupo “Fabula da Fíbola” e da Peça “Larguem tudo, vamos voar!”.
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MONTENEGRO, B., FREITAS, A. L. P., MAGALHÃES, P.
J. C., SANTOS, A. A., VALE, M. R.,2005. O Papel do Teatro na Divulgação
Científica: A Experiência da Seara da Ciência. Ciência e Cultura, 57(4): 31-32.
· Roque, Nidia Franca. Química por meio do
Teatro. Química Nova na Escola, 25, 19-22, 2007.
·
Shepherd-Barr,
Kirsten. From Copenhagen to infinity and beyond: science meets literature
on stage. Interdisciplinary Science
Reviews, 28 (3), 193-199, 2003.
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Triffaux, Jean
Pierre. Science and theater at the end of the nineteenth century: An ambiguous
relationship. Revue D Histoire Du Theatre, 51(3) 197-210, 1999.
·
Pignarre, R. História do teatro. 3-ª edição,
Coleção Saber. Publicações Europa – América. Portugal. 1979
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