2 de outubro de 2012

O que diz a memória química da água do mar?

A água não se esquece, diz Boris Koch, químico do Instituto Wegener de Pesquisa Polar e Marinha da Associação Helmholtz, na Alemanha. Sem considerar o que acontece no mar, se o sol brilha, se algas florescem ou golfinhos nadam em bandos, tudo deixa rastros biomoleculares na água. Com a ajuda de uma combinação de novas técnicas, Koch e colegas podem agora identificar e rastrear alguns deles. Em uma edição especial da revista Biogeosciences (aberta ao público), estes cientistas relatam como estas análises funcionam e quais eventos marinhos foram descobertos até o momento.

Lagos, poças, buracos em beiras de estradas cheios de água estagnada nunca foram antes do interesse de Koch. “Daí eu pensei: todo mundo sabe destas águas barrentas, e o que pode ter de interessante nelas? Hoje estamos trabalhando com as substâncias mesmas que colorem estes buracos nas beiras de estradas – ou, mais precisamente, com matéria orgânica dissolvida que não ocorre apenas nestes lugares, mas também no mar.”

É verdade que a concentração destas chamadas biomoléculas por litro de água é mais baixa nos oceanos que em uma poça em seu quintal. Mas se passássemos toda a água marinha do mundo por uma peneira biomolecular porosa e convertessemos todos os componentes contidos nela a unidades de carbono, a relação pareceria completamente diferente. Estima-se que esta peneira conteria cerca de 25 bilhões de toneladas de carbono armazenado. Isto se origina primariamente de restos de organismos marinhos mortos e também da biomassa de baleias, peixes, algas, bactérias e grama marinha vivos. Por outro lado, cerca de 662 bilhões de toneladas de carbono orgânico dissolvido se empilhariam embaixo da peneira, consistindo de dezenas de milhares de substâncias variadas.

Todas estas substâncias despertaram a curiosidade de Boris Koch: “Nosso trabalho com elas é acompanhado de duas dificuldades fundamentais: primeiro, não sabemos até hoje quanto material orgânico chega ao mar ou é produzido lá, e porque nem tudo é biodegradado. Segundo, a concentração de biomoléculas individuais dissolvidas é tão baixa que precisamos consistentemente enriquecer nossa amostras de água pra poder estudar a matéria orgânica dissolvida que contém, em um espectômetro de massa de ultra-alta resolução no Helmholtz Zentrum München,” explica Koch.

Com a ajuda deste espectômetro e do Centro Alemão de Pesquisa de Saúde Ambiental, a equipe de Boris conseguiu pela primeira vez identificar milhares de componentes individuais em matéria orgânica dissolvida no curso de uma única mensuração. “Temos a fórmula química de cada molécula e especificamos quanto de carbono, oxigênio, hidrogênio e nitrogênio ela contém. Precisamos desta informação para saber onde a molécula original se formou.”

No final da análise, produz-se uma espécie de impressão digital química que, no curso de cálculos estatísticos, permite conclusões concretas sobre a água na qual a matéria orgânica dissolvida um dia nadou. “Estamos apenas começando nossos estudos. Mas parece que usando este método, estamos descobrindo um novo meio de explorar a memória da água,” afirmou Koch, segundo o Eurekalert.




Moléculas dissolvidas fornecem visão da história marinha


Foto: ©Marshall Space Flight Center


Matéria original de José Eduardo Mendonça

Por Anderson Paschôa

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