A água não se esquece, diz Boris Koch, químico do Instituto Wegener
de Pesquisa Polar e Marinha da Associação Helmholtz, na Alemanha. Sem
considerar o que acontece no mar, se o sol brilha, se algas florescem ou
golfinhos nadam em bandos, tudo deixa rastros biomoleculares na água.
Com a ajuda de uma combinação de novas técnicas, Koch e colegas podem
agora identificar e rastrear alguns deles. Em uma edição especial da
revista Biogeosciences (aberta ao público), estes cientistas
relatam como estas análises funcionam e quais eventos marinhos foram
descobertos até o momento.
Lagos, poças, buracos em beiras de estradas cheios de água estagnada
nunca foram antes do interesse de Koch. “Daí eu pensei: todo mundo sabe
destas águas barrentas, e o que pode ter de interessante nelas? Hoje
estamos trabalhando com as substâncias mesmas que colorem estes buracos
nas beiras de estradas – ou, mais precisamente, com matéria orgânica
dissolvida que não ocorre apenas nestes lugares, mas também no mar.”
É verdade que a concentração destas chamadas biomoléculas por litro
de água é mais baixa nos oceanos que em uma poça em seu quintal. Mas se
passássemos toda a água marinha do mundo por uma peneira biomolecular
porosa e convertessemos todos os componentes contidos nela a unidades de
carbono, a relação pareceria completamente diferente. Estima-se que
esta peneira conteria cerca de 25 bilhões de toneladas de carbono
armazenado. Isto se origina primariamente de restos de organismos
marinhos mortos e também da biomassa de baleias, peixes, algas,
bactérias e grama marinha vivos. Por outro lado, cerca de 662 bilhões de
toneladas de carbono orgânico dissolvido se empilhariam embaixo da
peneira, consistindo de dezenas de milhares de substâncias variadas.
Todas estas substâncias despertaram a curiosidade de Boris Koch:
“Nosso trabalho com elas é acompanhado de duas dificuldades
fundamentais: primeiro, não sabemos até hoje quanto material orgânico
chega ao mar ou é produzido lá, e porque nem tudo é biodegradado.
Segundo, a concentração de biomoléculas individuais dissolvidas é tão
baixa que precisamos consistentemente enriquecer nossa amostras de água
pra poder estudar a matéria orgânica dissolvida que contém, em um
espectômetro de massa de ultra-alta resolução no Helmholtz Zentrum
München,” explica Koch.
Com a ajuda deste espectômetro e do Centro Alemão de Pesquisa de
Saúde Ambiental, a equipe de Boris conseguiu pela primeira vez
identificar milhares de componentes individuais em matéria orgânica
dissolvida no curso de uma única mensuração. “Temos a fórmula química de
cada molécula e especificamos quanto de carbono, oxigênio, hidrogênio e
nitrogênio ela contém. Precisamos desta informação para saber onde a
molécula original se formou.”
No final da análise, produz-se uma espécie de impressão digital
química que, no curso de cálculos estatísticos, permite conclusões
concretas sobre a água na qual a matéria orgânica dissolvida um dia
nadou. “Estamos apenas começando nossos estudos. Mas parece que usando
este método, estamos descobrindo um novo meio de explorar a memória da
água,” afirmou Koch, segundo o Eurekalert.
Moléculas dissolvidas fornecem visão da história marinha
Foto: ©Marshall Space Flight Center
Matéria original de José Eduardo Mendonça
Por Anderson Paschôa